Ai que prazer
Não cumprir um dever,
Ter um livro para ler
E não o fazer!
Ler é maçada,
Estudar é nada.
O sol doira
Sem literatura.
O rio corre, bem ou mal,
Sem edição original.
E a brisa, essa,
De tão naturalmente matinal,
Como tem tempo não tem pressa...
Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.
Quanto é melhor, quanto há bruma,
Esperar por D. Sebastião,
Quer venha ou não!
Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar, e o sol, que peca
Só quando, em vez de criar, seca.
O mais do que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças
Nem consta que tivesse biblioteca...
Fernando Pessoa,
Poesias.
Este poema foi proibido num dos saraus do Liceu que eu frequentava em 73. Não passou pela censura das autoridades escolares da época (nomeadas pelo Governo e não eleitas, como agora). Segundo essas mesmas autoridades, este poema, parecia "mal" dito pelos estudantes. Enfim...
Etiquetas: liberdade
Colocado por delta
quinta-feira, novembro 01, 2007